Plataforma de usinas termelétricas é atualizada com quatro empreendimentos

Ferramenta mostra informações de empreendimentos com mais de 100 megawatt; três estão em locais onde a capacidade de uso da água está comprometida

A Plataforma de Energia é uma iniciativa do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) com o objetivo de sistematizar e integrar informações sobre as usinas termelétricas (UTEs) de geração de eletricidade no Brasil. Ela foi atualizada, este ano, com quatro usinas que ganharam os últimos leilões. Todas utilizam água para resfriamento do sistema. Por meio da Plataforma, é possível observar que três das usinas adicionadas nessa atualização estão em locais onde o Balanço Hídrico Quantitativo, capacidade dos corpos de água, já é preocupante, crítico ou muito crítico. Acesse a ferramenta: http://usinas.energiaeambiente.org.br/

Essas são as UTEs incluídas:

Empreendimento Local Potência (MW)
UTE Parnaíba 5A e 5B Santo Antônio dos Lopes (MA) 363,2
UTE GNA Porto do Açu III São João da Barra (RJ) 1.672,6
UTE Marlim Azul (antiga Vale Azul II) Macaé (RJ) 565,5
UTE Novo Tempo Barcarena Barcarena (PA) 604,5

“A Plataforma de Usinas permite visualizar como as UTEs se distribuem no território e observar regiões nas quais os impactos das usinas podem se acumular gerando riscos potencialmente significativos”, diz Vinicius de Sousa, do IEMA. Por meio dela, é possível localizar no mapa cada uma das usinas junto com informações contendo detalhes técnicos de cada projeto, indicadores de uso de água e geração anual de eletricidade. Fazer esse tipo de acompanhamento será cada vez mais fundamental, pois a termeletricidade está ganhando maior importância no setor elétrico.

Isso pode ser observado analisando a contratação de usinas nos últimos leilões de geração dos quais participaram as novas UTEs. De dezembro de 2017 para cá, 56% da energia contratada em leilões é proveniente de usinas termelétricas a gás natural. As hidrelétricas, por outro lado, corresponderam a menos de 2%. Isso pode indicar que, nos próximos anos, as térmicas a gás devem substituir a hidroeletricidade como a principal fonte de expansão da oferta de energia elétrica no país. Nesse cenário, é indispensável que a avaliação dos impactos socioambientais cumulativos dessas usinas seja adequadamente considerada em seu planejamento locacional.

As quatro usinas adicionadas recentemente usam como combustível gás natural em ciclo combinado, ou seja, que aproveita o calor da saída da primeira turbina para produzir mais energia, e têm torre úmida como sistema de resfriamento. A plataforma também apresenta um esquema explicando como funciona a conversão termelétrica e o seu resfriamento, este pode ser por meio de água ou de ar. Entender esses sistemas é importante para determinar qual será o consumo de água pelas usinas, o que impacta diretamente a disponibilidade do recurso no local.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), uma pessoa deve ter acesso a 20 litros de água por dia. Por exemplo, por meio das informações disponibilizadas na Plataforma de Energia é possível estimar que a UTE Marlim Azul irá consumir cerca de 78 litros por segundo de água (L/s). O município de Macaé, onde essa usina está localizada, já abriga outras duas termelétricas que juntas consomem cerca de 150 L/s.

Assim, com a operação da nova usina, a termeletricidade no município será responsável por quase 230 L/s, o que equivale a 55% de toda a água consumida em Macaé, segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA). Embora a região tenha um balanço hídrico (capacidade dos corpos de água do local) considerado confortável, é importante ponderar se a destinação de parte tão significativa de seus recursos hídricos para o uso em termelétricas faz sentido para o município, considerando a existência de outros usos que podem ser prioritários.

O que é a Plataforma de Energia
A ferramenta mostra a localização e as informações das usinas a óleo, carvão ou gás natural acima de 100 MW em operação ou já contratadas. Ela também inclui dados georreferenciados sobre os volumes de água disponíveis nas regiões em que estão inseridas as usinas termelétricas, já que a maioria delas no Brasil usam água para resfriar o sistema de geração de energia.

Foto de abertura da cidade de Macaé (RJ): Luiz Rodrigues