Análise ambiental da contratação de usina termelétrica em Cubatão (São Paulo)

Saiba os principais aspectos ambientais relacionados à usina termelétrica Euzébio Rocha, única vencedora dos Leilões de Energia Elétrica de junho de 2021

Nos Leilões de Energia Elétrica Existente (LEE) A-4 e A-5 de 25 de junho de 2021, cujas usinas cadastradas foram previamente analisadas pelo IEMA por meio do boletim pré-leilão, houve a contratação de, respectivamente, 12,9 e 8,4 TWh a serem supridos em um horizonte de 15 anos às distribuidoras CELPA, CEMAR e LIGHT em diferentes proporções. O suprimento de eletricidade contratada no Leilão A-4 deve se iniciar em 2025. Para a eletricidade contratada no A-5, o suprimento se inicia em 2026. O total de energia comprado será fornecido pela usina Euzébio Rocha, única vencedora dos leilões. O fato de somente uma usina ter assinado os contratos se justifica por um cenário cauteloso quanto ao aumento da demanda futura por eletricidade, sem relação com medidas de redução da entrada de termelétricas fósseis na matriz elétrica brasileira.

A usina Euzébio Rocha, localizada no município paulista de Cubatão, trabalha em regime de cogeração de energia também produzindo vapor para a Refinaria Presidente Bernardes da Petrobras, o que é uma boa prática de eficiência energética. O empreendimento, que já opera desde 2009, registrou uma potência de 249,9 MW para concorrer nos leilões, tendo o gás natural como combustível principal. Considerando que os certames foram disputados exclusivamente por unidades geradoras a carvão mineral ou a gás natural, é significativo o fato de que não tenha sido contratada nenhuma termelétrica que utilize carvão, fonte de energia com fator de emissão médio de carbono (tCO2e/MWh) cerca de duas vezes maior do que o fator do gás. Além disso, o carvão mineral costuma ser uma fonte mais custosa que o gás e que as alternativas renováveis. Destaca-se também a utilização da tecnologia de ciclo combinado para conversão de energia térmica, proveniente da queima do gás natural, em energia elétrica. Tal tecnologia tende a ser mais eficiente, o que economiza combustível, tornando a geração de eletricidade menos cara e evitando maiores emissões atmosféricas.

Apesar da existência de concorrentes que propunham sistemas de resfriamento a ar, mais interessantes por não competirem localmente por água doce, a usina vencedora dos leilões utiliza resfriamento por torre úmida, captando água no Rio Cubatão. Na região onde se localiza a usina, o Rio Cubatão compõe uma microbacia de balanço hídrico muito crítico, segundo mapeamento da Agência Nacional de Águas (ANA). Esse é um ponto negativo a se enfatizar, pois usinas termelétricas podem ser grandes consumidoras de água em seus sistemas de resfriamento. A presença desses empreendimentos pode, portanto, gerar problemas hídricos, sobretudo em regiões com disponibilidade desfavorável de água doce.

Vale lembrar que a usina contratada está localizada em um município com forte histórico de poluição do ar e a geração termelétrica é mais uma fonte de emissão de poluentes atmosféricos, contribuindo para um cenário temerário para a saúde da população local. Em 2020, foram registrados nove dias em que, na estação de monitoramento mais próxima da usina vencedora dos leilões, as concentrações de O3 ultrapassaram a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) como minimamente segura. Por fim, em relação aos gases de efeito estufa (GEE), frisa-se que a utilização de um combustível fóssil – o gás natural – faz com que essa usina contribua para incrementar a intensidade de carbono do setor elétrico brasileiro.

Referências