COP30: Brasil arrisca “transição ao contrário”, alerta especialista do IEMA

Ampliação de termelétricas a gás vai na contramão dos avanços da transição energética

“Nós não temos metas obrigatórias para renováveis porque não precisamos delas. As fontes renováveis no Brasil já são mais baratas do que qualquer outra opção”. Foi assim que começou a sua fala o gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Ricardo Baitelo, que ministrou o painel “Desafios e Incongruências na Política Energética Brasileira”, realizado na manhã de quarta-feira (12), no Panda Pavilion da Blue Zone, da COP30, conferência sobre mudanças climáticas das Nações Unidas, realizada no Pará.

Segundo Baitelo, a combinação de hidrelétricas, solar e eólica resulta em uma matriz elétrica composta por cerca de 90% de fontes renováveis, algo alcançado majoritariamente por mecanismos de mercado. “Isso precisa ficar muito claro: temos 90% de renováveis sem nenhum tipo de target sobre as nossas cabeças”, disse. Ou seja, esse resultado foi obtido de forma espontânea, por meio do mercado e das condições naturais favoráveis do país, e não por causa de políticas ou compromissos formais.

Apesar dessa vantagem competitiva, o especialista alertou para a movimentação de grupos interessados em expandir o uso de combustíveis fósseis, especialmente o gás natural. “O lobby do gás está trabalhando para ampliar o uso dessa fonte no setor elétrico. Eles usam a narrativa de que precisamos disso para flexibilidade, mas isto não é verdade”, ressaltou. Para ele, a afirmação de que o gás seria um “combustível de transição” também não se sustenta: “Estão tentando vender essa ideia de uma transição baseada no gás. O que não é necessário”.

Baitelo alertou que, se esse movimento prosperar, o país pode caminhar na direção oposta da transição energética global. “O que estou dizendo é que espero que não façamos a transição ao contrário”, comentou, destacando o paradoxo de uma possível ampliação de fósseis em um sistema já majoritariamente limpo.

O especialista também ressaltou a diferença de custos entre as fontes. “Solar, eólica e hidrelétrica custam um quinto de qualquer térmica ou alternativa fóssil”, explicou, enfatizando o risco de aumentar tarifas e emissões caso o país avance na contratação de termelétricas movidas a gás natural.

Ao final, o especialista reforçou que o Brasil tem condições de liderar a transição energética global, desde que evite retrocessos motivados por interesses específicos. “Não precisamos de mais gás. Nossas renováveis já são mais competitivas, mais limpas e suficientes para garantir a expansão do sistema”, concluiu.

Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA)
Privacy Overview

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.