Representantes do Observatório do Clima e de organizações que fazem parte da rede apresentaram o side event, oficial da ONU, “Emissões brasileiras: a caminho da COP30?”, durante a 28ª Conferência das Partes (COP 28) da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC), em Dubai, ontem (8). O painel apresentou as estimativas mais recentes de emissões de gases de efeito estufa no Brasil, o sexto maior emissor climático do mundo e anfitrião da COP 30. O país emitiu 2,3 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa em 2022. Durante as discussões, esses dados apontaram os riscos que os biomas continuam sofrendo, com destaque para Cerrado e Amazônia.
Compuseram o painel: David Tsai, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), iniciativa responsável pelos dados, e do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA); Ane Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM); Luís Fernando Guedes Pinto, da SOS Mata Atlântica; Brenda Brito, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon); Isabel Garcia-Drigo, do Instituto para o Manejo e Certificação Agrícola e Florestal (Imaflora); e o moderador Claudio Angelo, do Observatório do Clima.
Durante o encontro, os especialistas revelaram o panorama atual sobre a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em todo o país, as implicações do cultivo de monoculturas e das pastagens em áreas antes ocupadas por vegetações nativas, sobretudo na Amazônia e Cerrado. Alertaram que, principalmente devido ao menor emprego de geração fóssil de energia elétrica, houve uma queda de 8% nas emissões em relação a 2021, quando a emissão bruta foi de 2,5 bilhões de toneladas. Apesar dessa redução registrada, a emissão no ano passado atingiu o terceiro maior patamar desde 2005, ficando abaixo apenas de 2019 e 2021.
“Mesmo com a queda dos indicadores, as mudanças de uso da terra, que incluem a devastação de todos os biomas brasileiros, responderam por 1,12 bilhão de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO2e), ou 48% do total nacional”, contextualizou David Tsai, coordenador técnico.
Guedes Pinto focou sua apresentação no bioma Mata Atlântica, onde a maior parte da população brasileira vive, 72%, e que tem uma das maiores biodiversidades do mundo. “Com os dados do Mapbiomas Brasil, podemos ver que a distribuição da vegetação remanescente é muito desigual.” O pesquisador alerta que a maior parte do bioma ainda está em risco, mesmo com a queda no desmatamento local. “Ao mesmo tempo, ele sofre desmatamento e é regenerado”, explica o pesquisador. No entanto, o desmatamento segue em área de mata primária ou mais preservada. Esse contexto aumenta a complexidade da análise da remoção de carbono na região.
Já ao falar sobre o Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro e sulamericano, Ane Alencar salientou: “62% dessa extensão pertence a propriedades privadas e onde estão 12% da vegetação nativa. Esses mesmos territórios particulares concentram 85% das áreas devastadas”. De acordo com a legislação, apenas 20% do Cerrado precisa ser conservado dentro de propriedades particulares. Apenas na área da Amazônia Legal esse valor aumenta para 80%, o que reflete o risco que corre o bioma. Dado esse contexto, o Cerrado foi menos desmatado nos últimos anos, mas as queimadas aumentaram as emissões de gases de efeito estufa da região.
Sobre o uso do solo, Garcia-Drigo abordou a questão de fazendas menos emissoras, especialmente, referente à criação de gado. “Seria possível ter propriedades assim? De fato, há um longo caminho para mudar de uma pior fazenda para um sustentável”, ressaltou a pesquisadora. Ela discorreu sobre quem está nesse caminho e como está chegando no objetivo. “No Sul do Brasil, há mais exemplos”, contou. Existem fazendas na Argentina, no Brasil, na Colômbia, no Paraguai e no Uruguai emitindo 44% menos GEE comparada com outras que criam gado. Um diferencial para chegar a esse patamar é ter suporte, assistência técnica e empresas ajudando. Para isso, é imprescindível o recurso financeiro.
Contudo, a situação crítica não se limita à Amazônia e ao Cerrado. Outros biomas estão carentes de estudos aprofundados sobre os impactos negativos advindos do desmatamento nas alterações climáticas, na queda do nível dos lençóis freáticos, nas suas pastagens e monoculturas. Independente do bioma, os painelistas foram unânimes ao afirmar a necessidade de mais critério na concessão e renovação de licenças ambientais, além de rigor nas fiscalizações a fim de combater a exploração clandestina.