COP30: Brasil está no caminho de cumprir suas metas climáticas?

Especialistas analisam emissões e desafios rumo a 2030

Foi sob o calor úmido da Amazônia que o painel “Will Brazil fulfill its promise?” levou à COP30, conferência das Nações Unidas sobre clima, a pergunta: o Brasil cumprirá, afinal, o que prometeu ao clima? A resposta, ainda que não seja tão otimista, apresentou as novas estimativas do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima (OC), e avaliou se o Brasil está no caminho para cumprir sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) até 2025 e 2030. 

Participaram do encontro David Tsai, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Marina Piatto, diretora executiva do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Brenda Brito, pesquisadora associada do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), e Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). A moderação foi feita por Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima.

Emissões caem, mas Brasil ainda não cumpre meta de 2025

As emissões brasileiras atingiram 2,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO₂e) em 2024, das quais 42% vieram de mudanças no uso da terra e florestas, 28% da agropecuária, 20% do setor energético, 4,5% de resíduos e menos de 5% da indústria, segundo levantamento do SEEG. 

Apesar da queda expressiva da derrubada na Amazônia desde 2023, o país ainda não cumprirá sua meta de reduzir as emissões a 1,32 gigatonelada em 2025, devendo chegar a 1,44 gigatonelada, segundo levantamento realizado pela equipe. “O desafio agora é que não podemos mais depender apenas do controle do desmatamento. Será preciso reduzir as emissões em todos os setores”, afirmou David Tsai, gerente de projetos do IEMA. E acrescenta: o país apresenta perfil único. Diferente de economias industrializadas, a maior parte das emissões vêm do desmatamento.

Valor da terra

O desmatamento foi o principal mote da fala de Marina Piatto, do Imaflora, que destacou que a agropecuária responde por quase 30% das emissões nacionais. As maiores causas são a fermentação entérica do gado, que libera metano, e o uso de fertilizantes nitrogenados. O rebanho bovino brasileiro, um dos maiores do mundo, é hoje o principal foco de mitigação. 

A especialista mostrou que a agricultura tem potencial de remover quase metade do carbono que emite, graças à fotossíntese e ao manejo de solos e pastagens. “O setor pode ser parte da solução se ampliar o uso de práticas como plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta e pastagens de alto vigor”, explicou.

Piatto também defendeu incentivos à redução do uso de fertilizantes químicos, ampliação dos biodigestores em fazendas de gado e a adoção de tecnologias que reduzam a idade de abate dos animais, medida que já traz bons resultados em estados como o Pará.

Fez coro à fala de Piatto a pesquisa realizada por Brenda Brito, do Imazon, que alertou que o cumprimento das metas climáticas também depende da destinação de terras públicas não destinadas na Amazônia, que somam mais de 100 milhões de hectares. Segundo ela, 40% do desmatamento recente ocorre nessas áreas, onde grilagem e ocupações ilegais persistem.

Brito apresentou dados inéditos sobre decisões de destinação de terras entre 2023 e 2024: 60 milhões de hectares tiveram alguma definição de uso, mas quase metade foi destinada à titulação privada. “Se mantivermos o ritmo atual de designação, cerca de três milhões de hectares por ano, levaremos 15 anos para resolver a situação fundiária federal na Amazônia, tempo que não temos”.

Ela também defendeu maior alinhamento político entre governos federal e estaduais, já que apenas quatro dos nove estados amazônicos possuem metas de desmatamento compatíveis com o compromisso nacional de eliminar o desmatamento ilegal até 2030.

Queimadas e incêndios florestais em alta

No entanto, a cientista Ane Alencar, do IPAM, apresentou um dos dados mais alarmantes: embora o desmatamento tenha caído 32% em 2024, as emissões por queimadas dispararam, com o maior número de áreas queimadas desde 1998.

“Se incluíssemos as emissões por incêndios florestais no inventário nacional, teríamos 97% mais emissões a reportar em 2024”, afirmou Alencar. Ela destacou que o Brasil liderou a criação de uma Coalizão Internacional para Manejo Integrado do Fogo, assinada por 50 países durante a COP30. “Não podemos mudar o clima, mas podemos evitar a ignição. O fogo é um fator que podemos controlar”, disse.

Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA)
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