Seis meses após o início do projeto Net Zero Brazil, um consórcio de organizações do terceiro setor, universidades e parceiros nacionais e internacionais avança na construção de cenários para que o país alcance emissões líquidas zero – situação em que a quantidade de gases de efeito estufa emitida por um país é igual à quantidade removida da atmosfera – nas próximas décadas. David Tsai, gerente do projeto no Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), explicou durante o painel “Visualizing net-zero economies to inform action” (Visualizando economias de emissões líquidas zero para orientar ações), na Blue Zone, espaço da COP30, Conferência das Partes sobre mudanças climáticas das Nações Unidas, que o entusiasmo da equipe é proveniente de três fatores centrais.
Participaram do painel os parceiros Eric Larson (Princeton University, Estados Unidos), Tianduo Peng (Tsinghua University, China), Ajay Mathur (School of Public Policy at IIT, Delhi, India) e Paulo Artaxo, (Centro de Estudos Amazônia Sustentável da Universidade de São Paulo, USP).
O primeiro é a chance de fortalecer a ainda pequena comunidade brasileira dedicada à modelagem de descarbonização. O segundo é a colaboração internacional, que permite ao país acessar métodos de ponta já utilizados nos modelos dos Estados Unidos, Índia e China. A terceira razão é o foco na visualização territorial, considerada fundamental para transformar projeções em políticas públicas concretas.
No Brasil, o uso da terra e a agropecuária respondem pela maior parcela das emissões: 42% relacionadas ao desmatamento e 30% à atividade agropecuária. “O país se diferencia de outras economias de grande porte. Enquanto em países como China e Estados Unidos as emissões se concentram no setor de energia, aqui a equação climática é dominada pelo território”, diz.
Ao mesmo tempo, o Brasil tem uma oportunidade singular. “O mandato legal de restaurar 20 milhões de hectares de terras degradadas, somado à regeneração já em curso, pode gerar 30% de remoções de carbono equivalente da atmosfera. Um potencial que pode crescer caso o país avance em políticas de desmatamento zero e recuperação florestal”, explica Tsai.
Diante dessa configuração de emissões, o modelo brasileiro precisa integrar três dimensões centrais: uso da terra, produção agropecuária e sistema energético. O projeto combina o modelo global Magpie ao mapeamento detalhado do MapBiomas (30 metros de resolução), além de modelos energéticos como o Macro.
Essa integração é complexa, compartilha Tsai: “Temos que cumprir metas de restauração, zerar o desmatamento, expandir biocombustíveis e instalar energia solar. Tudo isso requer disponibilidade de terra”.
O projeto também planeja uma ferramenta digital aberta, na qual qualquer usuário poderá comparar trajetórias e explorar cenários. A proposta foi reforçada por especialistas do conselho consultivo, que pediram máxima transparência nos parâmetros e suposições.
Até o primeiro semestre de 2026, devem ser divulgados os primeiros resultados revisados. Para a próxima Conferência das Partes, está prevista a versão inicial do sistema interativo, que permitirá ao público visualizar cenários e testar estratégias.

