COP30: Especialistas alertam para avanço do gás natural e retrocesso energético 

Painel reuniu integrantes da Coalizão Energia Limpa para denunciar os impactos e a persistência dos combustíveis fósseis no Brasil

Apesar de ser um país com uma das matrizes mais renováveis do mundo, o Brasil ainda mantém o gás natural no centro de suas discussões energéticas. Mesmo com o avanço das fontes de energia elétrica solar e eólica, a presença crescente do combustível fóssil  acende o alerta sobre o rumo da transição energética brasileira.

Foi o que pontuou o gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Ricardo Baitelo, ao abrir painel “Zonas de sacrifício e falsa transição: impactos da infraestrutura de GNL e dos jabutis do gás”, promovido pelo Amazon Climate Hub, iniciativa do Instituto Arayara na quarta-feira  (12). Baitelo ressaltou que, mesmo com o avanço expressivo das fontes solar e eólica, o Brasil vive um momento de “regressão energética”. O debate foi mediado por Mariana Lyrio, assessora de relações institucionais do Observatório do Clima.

“Temos uma grande oferta de energia renovável, mas parte dela é gerada em horários de baixa demanda, como a solar pela manhã e a eólica à noite. Isso cria um descompasso entre produção e consumo, gerando perdas econômicas e redução de receita para essas usinas renováveis, já que parte dessa energia não chega a ser incorporada ao sistema”, explicou.

O especialista também chamou atenção para as mudanças no modelo de planejamento energético. Até poucos anos atrás, as diretrizes eram centralizadas no Executivo. Hoje, segundo ele, o processo se fragmentou em negociações diretas com parlamentares, abrindo espaço para emendas e “jabutis” que favorecem o gás e o carvão. 

Em seguida, o assessor político do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Cássio Carvalho, apresentou dados que revelam o peso desigual dos subsídios públicos. Em 2024, os combustíveis fósseis receberam R$ 47 bilhões em incentivos, enquanto as fontes renováveis contaram com R$ 18 bilhões. Ele destacou que, embora os subsídios aos fósseis tenham caído em volume de demanda, a produção e a oferta continuam em ritmo crescente. “O Brasil continua financiando fontes poluentes e caras. As térmicas a gás natural são as principais beneficiadas”, afirmou

O diretor técnico do Instituto Arayara, Juliano Bueno, avaliou que o cenário é preocupante. Segundo ele, os próximos anos serão de muito gás, “talvez como nunca antes”. Segundo Bueno, a indústria fóssil vive uma fase de forte expansão, e o único caminho para conter as mudanças climáticas é frear esse avanço e acelerar o uso de tecnologias limpas e biocombustíveis.

Contexto mexicano

O painel também trouxe um olhar para o cenário internacional. O caso do México foi apresentado por Nancy Carmina, coordenadora jurídica da Equal Routes, como exemplo de como o gás natural tem avançado sob o discurso da transição.

O governo mexicano planeja instalar três novos terminais de gás natural liquefeito (GNL) no Golfo da Califórnia, região reconhecida como patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e essencial para a biodiversidade marinha e o ecoturismo local. A expansão do GNL ameaça comunidades tradicionais e ecossistemas sensíveis, ao mesmo tempo em que consolida o país como potencial quarto maior exportador mundial de gás natural liquefeito.

Ao encerrar o debate, os participantes reforçaram a necessidade da eliminação progressiva de petróleo e de gás do centro da agenda climática, de estabelecer metas e prazos concretos para a eliminação dos combustíveis fósseis e de garantir que o Brasil assuma um papel ativo nas articulações globais em defesa de uma transição energética justa e verdadeira.

Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA)
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