Nordeste concentra o maior número de termelétricas fósseis de serviço público conectadas ao SIN do Brasil, mostra estudo do IEMA

No subsistema também estão quatro das dez usinas termelétricas que mais emitiram GEE por GWh produzido

O subsistema Nordeste, composto por todos os estados da região homônima menos o Maranhão, concentra o maior número de termelétricas do Brasil-  28 unidades – mostra o Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétricas, estudo inédito do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) lançado dia 30. Além disso, quatro usinas que figuram entre as maiores emissoras de gases de efeito estufa (GEE) por energia gerada no Brasil pertencem a esse subsistema.

O estudo levantou dados de 72 usinas ligadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) no ano de 2020, sendo 36 movidas a gás natural como combustível principal, oito a carvão mineral, 17 a óleo combustível e outras 11 a diesel. Juntas, elas emitiram 32,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) em 2020. 

As plantas do Subsistema Nordeste, além de serem maiores em número, abrigam a maior capacidade de geração termelétrica do país. Ao todo elas geraram 9,6 TWh e emitiram 6,3 milhões de toneladas de (CO2e). Entretanto, quanto ao fator de capacidade – proporção entre a eletricidade fornecida e a capacidade instalada de uma planta de geração de energia -, foram as que menos operaram, tendo um fator médio de 16% – menor dos quatro subsistemas do SIN. A usina que mais operou no subsistema foi a Termobahia, em São Francisco do Conde (BA), ocupando a décima terceira colocação no ranking de fatores de capacidade do país.

No entanto, o subsistema tem quatro entre as dez primeiras usinas termelétricas mais emissoras de GEE do país: em terceiro lugar Porto do Pecém II (em São Gonçalo do Amarante, CE); em sexto lugar Arembepe (Camaçari, BA); em nono, Porto do Pecém I (também em São Gonçalo do Amarante, CE); e, em décimo, Global I (Candeias, BA). Neste caso, o indicador adotado pelos pesquisadores foi a taxa de emissão, determinada pela divisão entre as emissões e a eletricidade gerada por uma planta. As duas usinas termelétricas do Ceará utilizam carvão mineral, combustível que mais emite GEE por energia elétrica gerada.

Vale contextualizar que, nos últimos leilões de energia – processo licitatório promovido pelo poder público -, a Região Nordeste geralmente é a que aparece oferecendo mais empreendimentos ofertados, conforme indicam Boletins Leilão de Energia Elétrica lançados pelo IEMA. Além disso, ressalta-se que essa região apresenta alto potencial para instalação de projetos eólicos e solares. Nesse sentido, a instalação de termelétricas compete com o desenvolvimento de fontes mais limpas em emissões.

Alexandre Perotto/ Unsplash

Além do Subsistema Nordeste, outros três Subsistemas estão conectados ao SIN: o Sul, composto inteiramente pela Região Sul do Brasil; Subsistema Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO), formado pelas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, além dos estados do Acre e de Rondônia; e Subsistema Norte (N), constituído pelos estados de Amapá, Amazonas, Pará, Tocantins e Maranhão. Roraima é o único estado ainda não conectado ao SIN.

Importante salientar que o crescimento da geração de eletricidade por termelétricas movidas a combustíveis fósseis em 177% nas duas últimas décadas – de 30,6 TW em 2000, para 84,4 TWh, em 2020 – favoreceu um aumento de 90% nas emissões de gases de efeito estufa no setor elétrico, nesse mesmo período. Além do dano ao meio ambiente, o avanço resultará também em contas de luz mais caras à população. 

“O que o IEMA faz é qualificar o debate sobre o contexto atual do setor elétrico, que apresenta elevados riscos para os planos de descarbonização rumo a uma matriz 100% renovável, bem como para a melhoria da qualidade do ar no país. Infelizmente, o que temos visto é o país caminhar na direção oposta, com a expansão da operação de usinas termelétricas fósseis. Além da emissão de gases de efeito estufa, esse tipo de geração resulta em uma série de problemas ambientais”, alerta André Luis Ferreira, diretor-executivo do IEMA.