O Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) lançou a ReFrota, nova ferramenta que, a partir de dados dos próprios operadores, estima as emissões mensais e anuais de gases de efeito estufa e de poluentes provenientes das frotas de ônibus públicos do município de São Paulo. Ela foi apresentada em reunião online para cerca de 50 pessoas, incluindo representantes da SPTrans e de empresas operadoras de ônibus, no dia 24 de março (quarta-feira). Como parte do exigido pela Lei 16.802/2018 que, entre outras resoluções, dispõe sobre a redução de emissões dos ônibus paulistanos, os operadores de ônibus da capital devem reportar anualmente à SPTrans e ao Comitê Gestor do Programa de Acompanhamento da Substituição de Frota por Alternativas Mais Limpas (Comfrota) as emissões geradas no ano anterior por suas respectivas frotas. A ReFrota facilita e padroniza a realização do cálculo de emissões, após a inserção de dados como energia consumida e quilometragem rodada. Ela está disponível no site e aberta ao público, podendo ser utilizada por qualquer interessado.
“A ReFrota calcula as emissões de dióxido de carbono (CO2) – gás de efeito estufa atrelado ao aquecimento global –, de material particulado (MP) e de óxidos de nitrogênio (NOx) – ambos poluentes que fazem mal à saúde – regulamentadas na Lei 16.802/2018, que determina a eliminação gradual dessas emissões até 2038”, explica David Tsai, pesquisador do IEMA. Para isso, basta inserir na planilha os dados de quilometragem rodada, energia gasta (consumo de combustível ou energia elétrica), porte de veículo, como miniônibus ou ônibus articulado, e se é equipado ou não com ar-condicionado. A metodologia da ReFrota foi fundamentada no Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários, desenvolvido com importante participação do IEMA em parceria com organizações públicas como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) e a Petrobras. Vale ressaltar que a ReFrota foi construída a partir da PlanFrota, a ferramenta de cálculo de emissões utilizada para a elaboração dos planos de renovação de frota pelos operadores de ônibus.
Durante a quinta-feira (25), o IEMA deu suporte às equipes das operadoras de ônibus solucionando dúvidas técnicas sobre o uso da ferramenta e as emissões. A ferramenta também calcula as emissões por quilômetro rodado. O modo como o transporte público é operado pode gerar maiores ganhos ambientais, na medida em que cause menor consumo de combustível e, consequentemente, menor emissão de poluentes ou GEE. “O trânsito da cidade e o comportamento do motorista, por exemplo, podem reduzir ou aumentar as emissões de um mesmo veículo”, explica Tsai. Dessa maneira, com uma operação ideal, uma mesma quilometragem rodada pode consumir menos combustível, diminuindo diretamente a quantidade de emissões. Por isso, é importante pensar o transporte público como prioridade na cidade. Ele precisa de espaço mais fluído para circular. Toda a população passa a ser impactada positivamente.
Inventário de emissões do transporte público por ônibus
A SPTrans, responsável pela gestão do sistema de transporte por ônibus públicos de São Paulo, solicitou a ferramenta ao IEMA para conseguir acompanhar o histórico das emissões de ônibus da cidade. Os operadores não são obrigados a usar a ferramenta, mas ela tem como objetivo facilitar e padronizar o cálculo das emissões e até pode ser usada como fonte de consulta em possível auditoria futura. “A SPTrans precisa da quantidade anual de poluentes emitida por cada operadora, mas a ferramenta também traz de interessante a possibilidade de registrar e permitir a análise de todo o histórico de emissão de cada veículo. Ou seja, por meio dela é possível acompanhar o que está acontecendo”, afirma Carlos Antônio Lopes Cassiano, da SPTrans.
Dessa maneira, o IEMA busca colaborar com a melhora da qualidade do ar na capital paulista. Vale ressaltar que as principais fontes de emissão de gases poluentes e de efeito estufa na capital paulista são os veículos em geral. Os automóveis têm destaque nessas emissões, pois transportam menos pessoas em relação a quantidade de gases e poluentes que produzem. Assim, ônibus cada vez menos emissores significam um transporte mais socioambientalmente adequado.
Política Municipal de Mudanças Climáticas
Cada empresa operadora de ônibus público da cidade de São Paulo deverá apresentar, anualmente à SPTrans e ao Comfrota, as emissões de sua frota no ano anterior. Com isso, almeja-se acompanhar a evolução de emissões em direção a um transporte menos poluente, até atender a Lei Paulistana de Mudanças Climáticas. Essa lei exige que as emissões de CO2 dos ônibus caiam pela metade até 2028, em relação ao ano de 2016, e sejam extintas nos dez anos seguintes. Já para MP e NOX, a lei determina que as emissões sejam reduzidas, respectivamente, em 90% e 80% até 2028, também considerando 2016 como referência. Atingindo, por fim, 95% de redução no ano de 2038.
Sobre a ReFrota
A ReFrota foi criada a partir da PlanFrota, ferramenta disponibilizada pelo IEMA no fim de 2019, que auxilia a SPTrans e as empresas operadoras de ônibus a planejarem a renovação de frota com o objetivo de desenhar um arranjo que cumpra as metas anuais do edital de concessão da SPTrans, feito com base na Lei. “Por sua vez, a ReFrota foi desenvolvida para reportar o consumo de combustível e a quilometragem percorrida por cada veículo no ano anterior, com o objetivo de verificar as emissões passadas”, explica Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do IEMA. Ou seja, a ReFrota pode produzir o inventário de emissões de todos os ônibus públicos da cidade de São Paulo, uma das maiores frotas do mundo.