Enquanto os líderes mundiais do G20 aprovam, no Rio de Janeiro, uma proposta de tributação progressiva incluindo os super-ricos, na Conferência das Partes (COP29), em Baku, no Azerbaijão, para debater as mudanças climáticas, o SEEG mostrou que a Cidade Maravilhosa é a maior emissora de metano do Brasil. A informação foi debatida durante o painel “Metano e justiça climática: lições de organizações da sociedade civil para uma ação climática inclusiva e eficaz” (Methane and climate justice: Lessons from civil society organizations for inclusive and effective climate action), no Global Methane Hub Pavilion, hoje, dia 19.
“Apesar de ter assinado o acordo global para a redução de emissões de metano em 30% de 2020 até 2030, o Brasil aumentou seu montante emitido em 6% apenas entre 2020 e 2023. Isso aconteceu, principalmente, porque o rebanho de gado aumentou”, conta David Tsai, gerente de projetos do IEMA e coordenador do SEEG, Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima. O setor de agricultura no Brasil é o mais impactante em metano, sendo responsável por 76% das emissões totais desse gás.
No entanto, o arroto do gado não é o único culpado. No setor de energia, a queima de lenha para cozinhar, além de um crítico problema social pela falta de acesso à energia de qualidade ou de recurso financeiro para pagar a conta do gás ou da luz, gera metano. E, em cidades, um grande problema são os lixões ou aterros sanitários que não tratam as emissões de metano de maneira adequada. É neste caso que o Rio de Janeiro desponta em primeiro lugar.
A Cidade Maravilhosa é a maior emissora de metano devido ao inadequado tratamento do metano gerado pela decomposição de resíduos. Em seguida, aparecem a já famosa pelo desmatamento São Félix do Xingu (PA) e Corumbá (MS), ambas devido à pecuária. Depois, a capital paulista São Paulo ocupa o quarto lugar devido aos resíduos, seguida por Porto Velho (RO) – neste caso, novamente, a criação de gado desponta em emissões um pouco junto com os resíduos.
“Adotar boas práticas na criação de gado, o adequado manejo dos resíduos e reduzir o uso do fogo em culturas como de cana-de-açúcar poderiam diminuir as emissões de metano”, explica Tsai. Como o fogo em culturas agrícolas emite em grande quantidade o gás metano, deixar de adotá-lo como prática em geral de manejo do solo na agricultura seria uma solução.
Margarita Campuzano, do Centro Mexicano de Derecho Ambiental (Cemda), e Daniel Cusworth, do Carbon Mapper, também participaram do painel. Campuzano alertou sobre a necessidade de se saber o quanto é emitido e onde para evitar impactos sociais, visto que o meio ambiente não está desconectado da vida das pessoas. Ela disse que, na região de Tabasco, crianças sofrem com as emissões de uma refinaria que existe ao lado de uma escola.
“As informações devem ser transparentes e compartilhadas com toda a sociedade para que a população saiba o porquê sua saúde está sendo afetada e possa pedir por mudanças munida de dados”, ressalta Campuzano.
Cusworth contou sua experiência no monitoramento do metano via satélite, que pode ajudar a entender onde estão as principais fontes emissoras e os locais com maior concentração do gás. “No entanto, os satélites têm seus limites”, pondera o pesquisador. Ele compartilhou que a tecnologia é melhor aplicada quando se opta por mapear uma região específica.
Também lembrou que um dos maiores emissores de metano do mundo é os Estados Unidos. Embora, claro, o gás possa ser combatido de maneira efetiva a partir de ações locais como seria o caso do manejo adequado de aterros, criação de gado, agricultura e de acesso à energia limpa. Quem sabe a tributação dos super-ricos não seja encaminhada para o investimento em ações efetivas para reduzir o metano das cidades de países do Sul Global?