Olá,
Este é o boletim do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) referente ao último trimestre do ano de 2022. Foram meses intensos, repletos de atividades e de novidades, a começar pelo “2º Inventário de emissões atmosféricas em usinas termelétricas” sobre usinas movidas a combustíveis fósseis e que disponibilizaram energia ao Sistema Interligado Nacional (SIN) nos anos de 2020 e 2021. Devido à gestão da crise hídrica de 2021, houve um aumento de 75% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) em relação ao total emitido pelo parque termelétrico fóssil no ano anterior.
Isso porque mais usinas foram acionadas para evitar o racionamento de energia: entre 2020 e 2021, a geração de eletricidade por fontes fósseis passou de 15% para 20% da matriz elétrica brasileira. Ao todo, foram disponibilizados 95,8 TWh de eletricidade por termelétricas fósseis ao SIN, dos quais 68,9 TWh produzidos a partir do gás natural (44 plantas), o que corresponde a 72% do total. Além de detalhes sobre esses dados, o novo estudo revela quais são as termelétricas com as maiores taxas de emissão.
As usinas a carvão ocupam os primeiros lugares das que mais emitem por eletricidade gerada (tCO2e/GWh). Candiota III (RS), Pampa Sul (RS) e Jorge Lacerda I e II (SC) são as três usinas de maior taxa de emissão (tCO2e/GWh) do parque brasileiro. Com relação às empresas que mais emitem GEE, mais de 60% das emissões contabilizadas no segundo inventário foi de responsabilidade de apenas quatro: Petrobras (26,1%), Eneva (13,9%), Eletrobras (11,8%) e Fram Capital Energy (8,8%). Leia o resumo do estudo.
Anualmente, o IEMA vai publicar as atualizações desses dados criando, dessa maneira, uma linha do tempo onde será possível analisar o impacto ambiental e a evolução do emprego das termelétricas no Brasil. O objetivo é dar transparência ao setor elétrico, tão fundamental para a autonomia do país, e para que haja uma transição energética sem onerar e impactar negativamente o meio ambiente e as comunidades locais.
Alguns veículos de comunicação repercutiram os dados, entre eles: o Valor Econômico (Seis empresas responderam por 71,4% das emissões de gases de efeito estufa em 2021), a Folha de S. Paulo (Emissões brasileiras por termelétricas fósseis saltaram 75% em 2021) e o Canal Energia (Estudo mostra que emissões de UTEs cresceram 75% em 2021).
Ainda referente a emissões, outro destaque: David Tsai, gerente de projetos do IEMA, assume a coordenação do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima. A organização, com a parceria de instituições do terceiro setor como o IEMA, divulga anualmente as emissões de GEE do Brasil e também de cada um dos seus estados e municípios. Tasso Azevedo, agora ex-coordenador, fez o anúncio em evento de dez anos do projeto, em dezembro em Brasília, que contou com ex-ministras do meio ambiente e com representantes do legislativo e do executivo.
Seguem mais atualizações do IEMA. Desejamos uma boa leitura e excelentes festas! Que o próximo ano seja mais socioambientalmente justo, próspero e alegre.
Matriz elétrica limpa e inclusiva
Em setembro, foi publicada a quarta edição do Boletim Leilão de Energia. O Leilão de setembro, diferente dos demais, foi o primeiro realizado para cumprir artigo da Lei 14.182/2021 (privatização da Eletrobras) referente à contratação de usinas termelétricas para iniciarem a operação entre 2026 e 2030. O IEMA analisou as emissões potenciais da contratação dessas térmicas, além de outros impactos como desmatamento e estresse hídrico.
Após alertas das organizações do terceiro setor, foram contratados três projetos – de 33 termelétricas a gás natural ofertadas – totalizando “apenas” 753,8 MW (metade do previsto). Todos os projetos estão localizados no Amazonas e têm problemas de dados sobre seus impactos ambientais.
Algumas organizações que fazem parte da Coalizão Energia Limpa entraram com Ação Civil Pública pedindo o cancelamento do Leilão de Reserva de Capacidade de setembro, atrelado à privatização da Eletrobras. Termelétricas operando por pelo menos 70% do tempo ao longo de cada ano, conforme previsto na Lei 14.182/2021, acrescentariam R$ 111 bilhões ao custo de operação e manutenção do sistema elétrico entre 2022 e 2036, de acordo com dados do Idec.
Na Conferência das Partes (COP 27) no Egito, encontro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, foi lançada a Coalizão Energia Limpa – transição justa e livre do gás formada por um grupo brasileiro de organizações comprometido com a defesa de uma transição energética socialmente justa e ambientalmente sustentável. Fazem parte dela: ClimaInfo, Instituto Pólis, Instituto Internacional Arayara, Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e IEMA.
Em outubro, ocorreu outro leilão de energia. Na ocasião, usinas a carvão e a biogás competiam entre si. A Ouro Negro, única usina a carvão participante e que poderia ser construída no Rio Grande do Sul caso vencesse a concorrência, ficou de fora dos contratos.
Repercutindo o problema de energia gerada por usinas a carvão ainda sendo disponibilizada em leilões de energia, a equipe do IEMA publicou o artigo “Leilão de energia pode colocar mais uma usina a carvão no Brasil“, no Le Monde Diplomatique Brasil.
Ricardo Baitelo, gerente de projetos do IEMA, esteve no IEEFA Energy Finance Conference 2022 em Nova Iorque, Estados Unidos, em outubro. Ele falou sobre a transição energética no Brasil, o papel das energias renováveis e o atual investimento em termelétricas a gás em um cenário de mudanças climáticas.
André Luiz Ferreira, diretor-presidente do IEMA, abordou a universalização do acesso à energia elétrica na Amazônia na mesa-redonda “Pobreza Energética”, no XIII Congresso Brasileiro de Planejamento Energético, em agosto.
Mobilidade urbana de baixas emissões
“Transição energética no transporte público deve considerar usuários” é o tema de artigo da equipe do IEMA publicado no Nexo Políticas Públicas, em setembro. O texto aborda a necessidade de reduzir as desigualdades sociais e, não apenas, as emissões de carbono.
Com o objetivo de explicitar os desafios de uma transição energética justa no transporte público coletivo, o grupo do IEMA publica outro artigo, desta vez na Revista NTU Urbano, referente à crise estrutural pela qual passa o transporte público atualmente.
Pesquisadores e 140 instituições da sociedade civil, incluindo o IEMA, divulgaram manifesto em busca da criação do Sistema Único de Mobilidade (SUM). O intuito é integrar as esferas federal, estadual e municipal do transporte público.
IEMA colaborou com o Mapa da Desigualdade 2022 produzido pela Rede Nossa São Paulo. Em parceria com a Scipopulis, o instituto levantou o indicador de emissões do poluente material particulado (MP) por ônibus municipais da capital paulista.
Ar limpo
A Prefeitura de São Paulo, por meio da SPTrans, proibiu a inclusão de ônibus novos movidos a diesel na frota da capital para cumprir seu programa de metas climáticas, este acompanhado de perto pelo IEMA e outras organizações parceiras. Entre outras metas, a prefeitura estabeleceu que 20% da frota de ônibus será composta por modelos elétricos até o fim de 2024.
O pesquisador do IEMA Felipe Barcellos e Silva participou do lançamento do estudo “O Cenário de Cidades Compactas Eletrificadas”, realizado pelo ITDP. Na ocasião, ele ressaltou que a maior parte das emissões de GEE do setor de energia é proveniente da área de transportes.
A saber
O IEMA colaborou com a criação de novas diretrizes dos Tribunais de Contas para auditoria de riscos e de impactos socioambientais em infraestrutura.
O Estado de São Paulo apresentou o Plano de Ação Climática (PAC 2050) na COP 27, documento que vem sendo consolidado ao longo de 2022, pois o governo aderiu ao compromisso global Race To Zero com o intuito de zerar as emissões paulistas até 2050. Para elaborar o documento, o governo paulista contou com informações e com a colaboração da equipe do SEEG, da qual o IEMA faz parte.
Os dados da última edição do SEEG, de dez anos, mostram que as emissões de GEE do Brasil tiveram a maior alta em quase duas décadas. No setor de energia, foi a maior em 50 anos. O consumo energético voltou a patamares de 2014. Isso porque houve uma pequena retomada econômica pós-pandemia e a já citada crise hídrica.
O Observatório do Clima lançou o relatório “Desafios e Oportunidades para a Redução das Emissões de Metano no Brasil“, elaborado pelo SEEG. O estudo apresenta cálculo inédito sobre trajetória de emissões desse gás, além de uma proposta de meta de redução de metano para o país. No setor de energia, a queima de lenha e as emissões fugitivas da exploração de petróleo e de gás são as principais fontes de emissão de metano.
Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do IEMA, participou do 1º Ciclo de Eventos sobre Mudanças Climáticas, realizado com apoio da Prefeitura de Piracicaba (SP). O objetivo do encontro é aproximar a agenda de clima às características locais do município.
Artigo com dados do IEMA, escrito pela Isis Nóbile Diniz, da comunicação da organização, aborda a falta de energia elétrica em comunidades isoladas na Amazônia no livro “Quem precisa de justiça climática no Brasil?“, elaborado via grupo de trabalho de Gênero e Clima do Observatório do Clima.
David Tsai, do IEMA, participou da revisão do estudo “Atlas de Clima e Corrupção“, realizado pela Transparência Internacional. O trabalho apresenta evidências de como a corrupção prejudica o enfrentamento da crise climática.
Tutoriais ensinam como usar os dados do site SEEG Municípios, iniciativa do Observatório do Clima, do qual o IEMA faz parte e colabora com informações da área de energia e da indústria.
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