Subsistema Norte gerou 27% da energia elétrica proveniente de termelétricas fósseis de serviço público, aponta estudo do IEMA

Conhecida pelas hidrelétricas, região tem um grande parque a gás natural

Três usinas termelétricas do Subsistema Norte, uma no Amazonas (Mauá 3) e duas no Maranhão (Maranhão III e Porto do Itaqui) estão entre as doze que mais emitiram gases de efeito estufa (GEE), em valor absoluto, mostra novo estudo inédito Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétricas lançado dia 30, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Trata-se de uma análise minuciosa sobre termelétricas de serviço público conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e suas emissões de gases causadores do aquecimento global no ano de 2020. Mauá 3, localizada em Manaus, foi a segunda usina termelétrica fóssil de serviço público conectada ao SIN a mais gerar em 2020, sendo responsável por 7,2% de toda a produção de eletricidade analisada. 

Conhecida pelos impactos das hidrelétricas e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), pouco se fala sobre a geração por usina termelétrica no local. O Subsistema Norte, composto por Amapá, Amazonas, Pará, Tocantins e Maranhão, gerou 27% de toda energia proveniente de termelétricas fósseis de serviço público conectadas ao SIN em 2020, o que culminou na emissão de 7,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). Os estados do Maranhão e Amazonas só perderam em geração para o Rio de Janeiro e somam juntos quase um quarto de toda geração de energia elétrica, ocupando também a terceira e a quinta posição, respectivamente, entre as unidades da federação que mais emitem GEE em 2020.

Municipalmente falando, Manaus – que lidera as emissões do setor de energia do Brasil depois da cidade de São Paulo, segundo dados do SEEG Municípios – foi a cidade que mais gerou eletricidade advinda de fontes fósseis de serviço público para o SIN, sendo responsável por 14% de toda geração brasileira. 

Normalmente, os municípios mais populosos, como as capitais, têm no setor de energia sua principal fonte, sobretudo devido ao consumo de combustíveis fósseis nos transportes. Mas o caso de Manaus é diferente, já que a geração de eletricidade a partir de fontes fósseis assume papel muito relevante. Ao todo, são sete usinas, todas a gás natural, que operaram em 2020 a um fator de capacidade – proporção entre a eletricidade fornecida e a capacidade instalada de uma planta de geração de energia – de no mínimo 63%, mais do que o dobro da média nacional, 31%.

RCRD Landscape Photos/ Unsplash

Outro município relevante para as emissões deste subsistema foi Santo Antônio dos Lopes (MA), sede do Complexo Parnaíba, com 2,8 milhões de emissões de CO2e. O complexo – e as usinas a carvão Porto do Itaqui (São Luís – MA) e Porto do Pecém II (São Gonçalo do Amarante – CE (Subsistema Nordeste) -, pertence à Eneva S/A, importante companhia na geração termelétrica fóssil brasileira. Ela foi responsável por mais de 50% das emissões de GEE do subsistema Norte. Nesse mesmo viés, a Eletronorte foi responsável por 29% das emissões de GEE desse subsistema.

Usinas termelétricas analisadas

Outros três subsistemas estão conectados ao sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil, o SIN, e foram analisados: o Sul, composto inteiramente pela Região Sul do Brasil; Subsistema Sudeste/Centro-Oeste, formado pelas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, além dos estados do Acre e de Rondônia; e o Subsistema Nordeste (NE), composto pelos estados da Região Nordeste do país, com exceção do Maranhão. Roraima é o único estado que não pertence a nenhum subsistema.

O estudo analisou 72 usinas termelétricas, sendo 36 movidas a gás natural como combustível principal, oito a carvão mineral, 17 a óleo combustível e outras 11 a diesel. Juntas, elas produziram 54,1 TWh de eletricidade e emitiram 32,7 milhões de toneladas de CO2e em 2020. Entre as cinco usinas com maior produção de eletricidade inventariadas (33% do total) figuram as UTEs Mauá 3 (Manaus, AM), com 3,9 TWh (7,2%), e Maranhão III (Santo Antônio dos Lopes, MA), com 3,1 TWh (5,8%), respectivamente na segunda e na quarta posições.

Nessa primeira versão do “Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétricas”, ainda não foram consideradas as usinas termelétricas fósseis do Sisol (sistemas isolados), que têm emissão estimada de 2,9 milhões de toneladas de gases de efeito estufa em 2020 pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Nos próximos estudos, o IEMA pretende integrar a amostra de dados com essas usinas de modo a torná-la mais completa e mais fiel à realidade de emissões do subsistema Norte de do Brasil.

O crescimento da geração de eletricidade por termelétricas movidas a combustíveis fósseis em 177% nas duas últimas décadas – de 30,6 TW em 2000, para 84,4 TWh, em 2020 – favoreceu um aumento de 90% nas emissões de gases de efeito estufa no setor elétrico, nesse mesmo período. Além do dano ao meio ambiente, o avanço resultará também em contas de luz mais caras à população.