Biomassa de eucalipto pode complementar energia solar e eólica

Um estudo revela que é possível reduzir em um quinto as emissões do sistema interligado nacional usando lenha nas termelétricas

Um estudo realizado pelo Instituto Energia e Meio Ambiente revela que é possível produzir energia elétrica a partir da biomassa de eucalipto suficiente para reduzir em um quinto as emissões do sistema interligado nacional (SIN). O combustível seria proveniente de florestas plantadas, que não contribuem para as mudanças climáticas porque captaram carbono da atmosfera enquanto as árvores estavam crescendo. O objetivo do estudo “Florestas Energéticas: potencial da biomassa dedicada no Brasil” é simular alternativas de fontes garantidas de eletricidade que compensam a intermitência das usinas eólicas ou solares. Isso permitiria a montagem de um sistema que forneça energia limpa com segurança para o país.

A ideia que inspirou o estudo “Florestas Energéticas” foi atender a duas demandas. A primeira é oferecer fontes de eletricidade controladas para complementar a ampliação do papel de fontes intermitentes como eólica e solar. O desenvolvimento de fontes alternativas não fósseis pode ser estratégico, uma vez que permite que os reservatórios das usinas hidrelétricas sejam liberados para acomodar a crescente expansão de fontes renováveis intermitentes no sistema. A segunda demanda é de recuperação de cobertura vegetal no país. Um dos compromissos que o Brasil assumiu no Acordo de Paris prevê a recuperação de 12 milhões de hectares. Isso pode envolver usar florestas plantadas para a recuperação de áreas degradadas.

O estudo, realizado pelos pesquisadores Munir Soares, Vinicius de Sousa e Camila Cardoso Leite, integrantes da equipe do IEMA, mostrou que o potencial da biomassa de eucalipto é expressivo. Segundo as projeções, no cenário mais ambicioso a restauração com florestas para produção de biomassa chegaria a 6,3 milhões de hectares. Só isso garantiria 52,8% da meta brasileira no Acordo de Paris. Dentro de boas práticas de manejo florestal, 1,6 milhões de hectares seriam mantidos como áreas de reserva legal. Essa floresta plantada teria um estoque de carbono equivalente a 17 vezes as emissões totais do Sistema Integrado Nacional (SIN), sem considerar as áreas de reserva legal.

A queima de biomassa reduziria a necessidade de combustíveis fósseis, evitando a emissão de 8,3 milhões de toneladas de carbono em 2030. Isso seria o equivalente a 20,2% das emissões do SIN esperadas para aquele ano. Entre 2022 e 2030, o setor elétrico brasileiro cortaria 73% dos gases de efeito estufa em relação ao patamar de 2016.

Isso seria possível porque a entrada de energia de biomassa evitaria a geração de 8,2 gigawatt (GW) de usinas termelétricas a combustíveis fósseis.

Ainda segundo o estudo, a adoção dessa biomassa de florestas plantadas traria o investimento de R$ 130 bilhões no setor, impulsionando essa área da indústria nacional, gerando até 2,3 milhões de empregos diretos ao longo da vida útil dos projetos. A estratégia alavancaria o desenvolvimento das regiões no interior do país.

No entanto, o levantamento também apontou uma série de barreiras para a adoção dessa estratégia de geração elétrica a partir do eucalipto. A primeira delas é a rigidez natural do setor madeireiro. “As particularidades do setor florestal, somadas à ausência de mercados consolidados de compra e venda de madeira em algumas regiões do país, permitem pouca flexibilidade nas condições de contratação do combustível, conferindo uma característica inflexível para a fonte”, escrevem os pesquisadores. Isso significa que o produtor de energia de biomassa teria menos jogo para negociar preços, locais de entrega e prazos. Para contornar isso, seriam necessárias medidas que incentivassem o desenvolvimento do setor, como regras para a contratação de biomassa pelas termelétricas.

“Ainda é preciso investigar outros aspectos, como a necessidade de um zoneamento que identifique as áreas mais propícias ao plantio, considerando os aspectos econômicos, ambientais e sociais”, afirma André Ferreira, diretor presidente do IEMA. “Mas esperamos que o estudo contribua para o debate sobre o papel que a biomassa pode ocupar numa matriz elétrica brasileira limpa.”

O projeto foi dividido em três fases:

• Na Fase 1, foi avaliada a disponibilidade de áreas adequadas para a implantação de plantios considerando critérios técnicos e socioambientais;

• Na Fase 2, foram avaliados os aspectos econômicos da produção de madeira para fins energéticos. Além do relatório técnico, foi desenvolvido um modelo de custeio para cálculo da composição do custo de investimento, custo de produção e preço alvo de venda da madeira produzida em diferentes regiões brasileiras;

• Na Fase 3, foram avaliados os aspectos econômicos da produção de energia elétrica considerando os resultados obtidos na Fase 2. Além do relatório técnico, foi desenvolvido um modelo de custeio para cálculo da composição do custo de investimento e do preço alvo de venda de energia para usinas termoelétricas (UTEs) a biomassa do eucalipto com porte de 5 MW a 150 MW.

Leia aqui o estudo final.