Entenda as emissões de gases de efeito estufa nos setores de energia e de processos industriais no Brasil em 2023

Transporte registrou aumento de 3%, alcançando um novo recorde segundo dados do SEEG

As emissões brutas totais de dióxido de carbono equivalente (CO₂e), responsáveis pelas mudanças climáticas, somaram 2,3 bilhões de toneladas em 2023, de acordo com dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG), divulgados agora em novembro. O Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) colabora com o estudo por meio do cálculo das emissões de energia e de processos industriais. Esse volume teve uma redução de 12% em relação ao ano anterior, a maior queda desde 2009. Porém, o setor de energia teve um pequeno acréscimo de 1,1% em suas emissões. 

A diminuição geral foi impulsionada, principalmente, pela queda de 24% nas emissões por desmatamento. Do total de emissões brutas, a maior parte (46%) se refere ao setor de mudanças no uso da terra, seguida pelas emissões do setor de agropecuária (28%), energia e processos industriais e uso de produtos (PIUP), 22%, resíduos com 4% das emissões. A seguir, as informações referente à energia e processos industriais e uso de produtos são esmiuçadas.

Energia e processos industriais e uso de produtos (PIUP)

Em 2023, os setores de energia e PIUP apresentaram um aumento de 1,1% nas emissões em relação ao ano anterior (2022), somando um total de 511,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO₂e), o que representa 22% das emissões brutas do país. A variação nas emissões desses setores está diretamente relacionada à atividade econômica do Brasil, com aumentos ou diminuições conforme o desempenho da economia. 

Por exemplo, a queda nas emissões entre 2015 e 2020 pode ser explicada pela desaceleração econômica e pela pandemia de COVID-19, que resultaram em menor demanda por energia e redução das atividades industriais. No entanto, com a recuperação e estabilização da economia a partir de 2021, houve uma alta nas emissões, impulsionada principalmente pelo setor de transportes de passageiros e de cargas.

Com relação aos estados, São Paulo é o maior emissor no setor de energia e Minas Gerais, de processos industriais. Mais da metade das emissões de São Paulo se devem ao transporte. Seguidas lá atrás (14,9%) por indústria e (12,3%) por produção de combustíveis. Em Minas Gerais, 59% das emissões industriais são decorrentes da produção de metais e 41% de produtos minerais. Ou seja, o modo de locomoção das regiões metropolitanas de São Paulo influencia negativamente as emissões brasileiras e a indústria mineira é grande emissora. 

Transportes

De acordo com os dados do Balanço Energético Nacional (BEN), 2023 foi o ano com o maior consumo de combustíveis fósseis na história recente do Brasil, destacando-se como o que mais se queimou diesel e gasolina em veículos no país. No ano passado, 44% das emissões do setor foram provenientes do transporte, com 223,8 milhões de toneladas de CO₂e. Uma elevação de 3,2% atingindo o seu recorde histórico.

Esse número expressivo só não foi ainda maior devido à crescente participação das fontes renováveis na matriz energética de transportes, que teve um aumento de 0,5% em relação ao ano anterior, alcançando 22,5% de participação em 2023. Isso demonstra uma tendência de transição para opções mais limpas e sustentáveis no setor de transportes, embora o consumo de combustíveis fósseis ainda seja dominante e continue a pressionar as emissões.

Aliás, dentro do setor de transporte de passageiros, os automóveis sozinhos representaram 67% das emissões. O transporte de carga apresentou aumento de 2%, sendo o maior consumidor de diesel de petróleo. As emissões do setor de transporte poderiam ser maiores, porém a mistura de biodiesel nos combustíveis ficou em 12% a partir de abril de 2023, o que ajudou a reduzir.

Aumento no emprego de renováveis

A alta no consumo de fontes renováveis no setor de transportes em 2023 foi impulsionada pelo aumento no uso de biodiesel, que cresceu 19% em relação a 2022, e pelo etanol, que registrou um aumento de 6%. Esse crescimento é fundamental para a redução das emissões do setor, além de outras estratégias, como a adoção de novas tecnologias de propulsão, incluindo veículos elétricos a bateria e híbridos flex.

No transporte de passageiros, repensar o planejamento urbano é uma medida essencial para diminuir as emissões, com foco em cidades mais compactas e acessíveis, que incentivem o uso de transporte coletivo e modos de transporte ativo, como caminhadas e ciclismo. No transporte de cargas, que é responsável pela maior parcela de consumo de diesel de petróleo, é importante investir em ferrovias e hidrovias, reduzindo a dependência de rodovias e, ao mesmo tempo, tomando cuidado para que essas novas infraestruturas não causem impactos em áreas socioambientalmente sensíveis, além da substituição de combustíveis fósseis por opções renováveis como diesel verde, etanol, eletricidade, entre outros.

No setor de geração de eletricidade, o uso de fontes renováveis também se destacou em 2023, alcançando 89%, o maior percentual registrado nos últimos 14 anos. Esse avanço foi essencial para a redução das emissões do setor elétrico que, como ilustrado na próxima figura, mostra uma diminuição de 8% na geração termelétrica a partir de combustíveis fósseis. Esse declínio na geração térmica contribuiu diretamente para a queda nas emissões provenientes da geração de eletricidade, reforçando a importância de continuar a transição para fontes de energia mais limpas e sustentáveis no Brasil.

Queda das emissões industriais

Em 2023, as emissões somadas dos setores de energia e PIUP apresentaram uma redução de 2,6 milhões de toneladas de CO₂e, representando uma diminuição de -2% em relação ao ano de 2022. Essa queda reflete um movimento geral de diminuição das emissões nos dois setores, considerando tanto a queima de combustíveis para a obtenção de energia quanto os processos industriais e o uso de produtos.

No entanto, ao analisar as emissões de forma desagregada, é possível observar comportamentos distintos entre os dois setores:

●      Energia – As emissões deste setor apresentaram uma queda de 5% em 2023 em relação a 2022, resultado de um aumento de 3% no uso de eletricidade industrial e de uma redução de 5% no consumo de carvão mineral. Além disso, houve uma diminuição de 6,5% no consumo de gás natural, utilizado em diversos segmentos industriais. Esses dados refletem um avanço na transição para fontes de energia mais limpas;

●  PIUP – Por outro lado, no setor de processos industriais, as emissões aumentaram 1% em 2023, com a principal influência desse aumento sendo a maior produção de cimento, que é uma atividade altamente intensiva em carbono.

 Embora a atividade industrial como um todo tenha registrado uma queda nas emissões, a análise desagregada revela que o setor de energia está mostrando progressos em sua descarbonização, enquanto o setor de PIUP ainda enfrenta desafios, especialmente, devido à natureza intensiva em carbono de determinados processos industriais..

Biocombustíveis 

O consumo total de energia atingiu 290 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep) em 2023, com 49% dessa energia proveniente de fontes renováveis. Entre elas, a biomassa foi a principal fonte seguida por solar, eólica e hídrica. Em comparação com 2022, o uso de energias renováveis cresceu 9%, passando de 25% para 34%. A indústria continua sendo o maior consumidor desse tipo de energia, respondendo por 50% do total, seguida pelo setor de transporte, com 21%. Esses dois setores também são os maiores emissores de gases de efeito estufa entre os analisados (energia e PIUP).

Esse aumento no consumo de bioenergia é significativo, pois desempenha um papel essencial na redução das emissões nos setores de indústria e transporte. O Brasil, com sua expertise na produção de combustíveis renováveis, tem a oportunidade de se beneficiar ainda mais dessa tendência. A implementação de políticas como a “Lei do Combustível do Futuro”, em vigor este ano, é um passo importante. Contudo, para garantir sua eficácia, essas políticas devem ser acompanhadas de ações integradas entre diferentes setores da economia, com especial atenção às questões socioambientais.