A cidade de Belém, no Pará, será a próxima a sediar a Conferência das Partes (COP) das Nações Unidas para as mudanças climáticas. Enquanto o encontro debaterá como reduzir e mitigar as emissões de gases causadores do problema climático mundial, a próxima sede terá como vizinho o maior complexo termelétrico do Brasil: Novo Tempo, no município de Barcarena. O dado foi ressaltado no painel “Compromisso de Metano: avançando a eliminação do uso do GNL na COP 30” (Beyond Methane Pledge: Pushing for the phaseout of LNG in COP 30), que contou com a participação do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) e aconteceu dia 19, na COP29 em Baku, no Regional Climate Foundations Pavilion.
Segundo dados do governo federal, a usina estará operando até 2026. Durante a apresentação, Ricardo Baitelo, gerente de projetos do IEMA, ressaltou que o país não precisa de mais investimento em gás para ter energia elétrica suficiente. “Nós temos diversos potenciais em energia limpa e podemos suprir nossa necessidade de energia de outras maneiras. O uso do gás é desnecessário em termelétricas e, por esse motivo, a Coalizão Energia Limpa apoia o Compromisso de Metano”, declara Baitelo.
Entre elas, além da continuidade no crescimento nas fontes eólica e solar, citam-se ações para tornar o sistema elétrico mais resiliente, como a redefinição da operação das hidrelétricas, otimizando-as para armazenamento de energia e fornecimento de potência em momentos críticos, o reforço na transmissão de energia para acompanhar o crescimento das fontes renováveis e bancos de baterias para equilibrar a produção e o consumo de energia renovável. Por fim, as térmicas a biomassa, com potencial em biogás e resíduos agrícolas, podem contribuir para a resiliência do sistema energético.
A usina Novo Tempo Barcarena I, de 600 MW, foi contratada em 2019, e está em construção. Ela tem duas ampliações em processo de licenciamento e não contratadas que somadas dariam 2,6 GW. Outra termelétrica que está em implantação é a usina de Caçapava, de 1,7 GW. Atualmente, a maior usina brasileira é a TermoRio, em Duque de Caxias (RJ), com 2,5 GW.
O gás natural liquefeito (GNL) é o gás natural convertido em estado líquido para facilitar seu armazenamento e transporte. Assim, ele pode ser extraído em um país e deslocado para qualquer lugar do mundo por meio de navios cargueiros. Apesar de frequentemente ser apresentado como uma alternativa energética, ele não resolve o problema da transição sustentável. Embora emita menos gases de efeito estufa do que outros combustíveis fósseis, o GNL pode liberar metano (CH₄) durante a produção e transporte, um gás de efeito estufa até 28 vezes mais potente que o dióxido de carbono.
Elissama Menezes, diretora do Say No to LNG, organizador do debate, ressaltou que o metano causa danos à saúde direta e indiretamente. Apenas com relação ao transporte, ele impacta a biodiversidade, polui o ar e os oceanos, além de aumentar as emissões de gases causadores de efeito estufa. “Os navios são barulhentos, impactam a biodiversidade do oceano, carregam espécies que podem se tornar invasoras em outros locais”, explica Menezes. “O emprego do GNL como solução para as mudanças climáticas é greenwashing”, ressalta. Além disso, os navios atravessam locais ricos em biodiversidade como as costas da Austrália e do Brasil.
Também participaram do debate representantes das organizações Don´t Gas Africa e Center for Energy, Ecology, and Development (CEED). Esta ressaltou o aumento da exploração de gás off shore (em alto mar) na Indonésia e a instalação de novos terminais nas Filipinas com investimento estrangeiro. Na África, grande parte dos gasodutos planejados estão sendo construídos para fins de exportação, sem contribuição ao consumo doméstico local.