COP30: Cumprir as metas climáticas exigirá uma transformação profunda na economia brasileira

Mesmo com avanços no controle do uso da terra, emissões seguem altas e exigem ações estruturais em energia, agricultura e resíduos

O avanço das energias renováveis em países em desenvolvimento esbarra em um dilema complexo: como expandir a infraestrutura sem comprometer a biodiversidade? Esse foi o tema do painel “Visualizando economias de emissões líquidas zero para orientar ações”, que ocorreu no dia 12 no Planetary Science Pavilion (Pavilhão de Ciências Planetárias) na Blue Zone, ambiente da Organização das Nações Unidas onde ocorre a Conferência das Partes (COP30) para discutir mudanças climáticas em Belém, Pará.

David Tsai, gerente de projetos no Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), apresentou uma análise detalhada das emissões brasileiras ao longo das últimas décadas, com base em dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). “Em 2024, atingimos 2,146 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente”, afirmou, destacando que 42% das emissões vêm de mudanças no uso da terra e florestas. Sendo que o desmatamento responde por 92% deste total.

Tsai sublinhou a diferença estrutural do Brasil em relação a outros países, já que, no país, o setor energético representa apenas o terceiro maior emissor, atrás de agricultura e uso da terra: “Isso mostra como o Brasil é diferente da média mundial. O setor de energia é apenas o terceiro maior”.

O pesquisador também destacou que, apesar dos avanços recentes, como a redução nas taxas de desmatamento desde 2023, os desafios que se colocam adiante ainda são significativos. Segundo ele, o país está no rumo certo para alcançar a meta de 2025, mas ainda deve ficar acima do patamar ideal: “O resultado esperado para 2025 é de 1,44 gigatoneladas de dióxido de equivalente emitido, próximo da meta, mas ainda acima dos 1,32 definidos no NDC [‘Contribuição Nacionalmente Determinada’ (Nationally Determined Contribution), que representa os compromissos de cada país para reduzir emissões de gases de efeito estufa]”.

Ele enfatizou a necessidade urgente de ampliar a mitigação em todos os setores, especialmente na indústria e nos transportes, já que “não podemos mais depender apenas da redução do desmatamento”. Segundo Tsai, o futuro da política climática brasileira precisa combinar controle do uso da terra com ações estruturais em energia, agricultura e resíduos se quiser cumprir as metas de 2030 em diante.

Durante o debate, foi levado um exemplo da Índia, onde disputas envolvendo energia renovável chegaram à Suprema Corte. “Isso é incrivelmente caro, mas revela a enorme tensão entre a conservação da biodiversidade e a disponibilidade de terras”, afirmou Ajay Mathur, professor da Escola de Políticas Públicas do Instituto Indiano de Tecnologia de Délhi. Segundo este, acordos individuais entre produtores e agricultores também tornam imprevisível o uso futuro da terra e levantam dúvidas sobre a devolução dessas áreas após contratos típicos de 30 anos.

Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA)
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