O Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) realizou dois estudos, um econômico e outro qualitativo e quantitativo, sobre o projeto Xingu Solar do Instituto Socioambiental (ISA). Até agora, pelo projeto do ISA já foram instalados 70 sistemas fotovoltaicos com potência total combinada de 33.260 kWp em 65 aldeias do Território Indígena do Xingu (TIX). Segundo a avaliação, a combinação da produção de energia elétrica de geradores a derivados de petróleo com painéis fotovoltaicos poderia trazer a economia de mais de R$ 360 mil por ano em subsídios federais, caso o atendimento fosse realizado no âmbito do programa Luz para Todos. Além disso, a pesquisa mostrou que as comunidades locais preferem energias renováveis devido à segurança energética por não depender da disponibilidade de combustíveis fósseis e aos benefícios ambientais.
Nem todos os brasileiros estão conectados aos fios do Sistema Interligado Nacional (SIN), que distribui a energia gerada pelas diversas fontes do país. Cerca de três milhões de pessoas são atendidas por sistemas de energia elétrica isolados do SIN. E a maior parte dessas pessoas está na Amazônia. O problema disso é que nem todas essas fontes locais de energia elétrica são seguras, deixando a população que é mais afastada carente de energia para carregar uma lanterna.
“A motivação é discutir o acesso à energia elétrica às centenas de milhares de brasileiros que vivem em áreas remotas na Amazônia, na expectativa de que o enfrentamento deste desafio se dê por meio de uma política pública articulada e inovadora que vá além do setor elétrico”, Pedro Bara, pesquisador do IEMA. O estudo avaliou os impactos econômicos do uso de painéis solares no TIX e os aspectos socioculturais e comportamentais locais com relação ao acesso à eletricidade. Para isso, foram realizadas entrevistas em 15 aldeias com 117 atores envolvidos no projeto: participantes dos cursos de formação, lideranças indígenas, parceiros e equipe do ISA.
Impacto nas contas públicas
O uso da energia solar no lugar dos geradores a diesel no TIX poderia ocasionar a economia de mais de R$ 360 mil por ano em subsídios. Esse potencial econômico é ainda mais expressivo se considerar que a população do TIX é de oito mil pessoas e estima-se que até dois milhões no país ainda não têm acesso. Esse valor de economia é decorrente da simulação do cenário em que as demandas reprimidas por energia elétrica na região seriam atendidas.
O custo por unidade de energia elétrica gerada é: diesel, R$ 1,70; híbrida, R$ 1,42; e solar, R$ 1,04. A opção fotovoltaica e a híbrida – energia solar mais gerador derivado do petróleo – são mais econômicas.
Em um primeiro momento, a tecnologia a diesel tem vantagem sobre a solar. Isso porque apresenta menores custos de aquisição. Porém, o ciclo de vida de um painel solar é de 25 anos. Para realizar uma comparação econômica adequada entre as tecnologias, é preciso considerar as despesas operacionais (manutenção do gerador e abastecimento com combustível) a longo prazo.
Além disso, apenas os geradores a diesel do Território Indígena do Xingu hoje emitem cerca de 600 toneladas de CO2 por ano. Para compensar essa emissão, seria necessário plantar árvores nativas em uma área equivalente a 74 campos de futebol, segundo estimativa baseada em dados do Projeto Carbono das Nascentes do Xingu. Se as comunidades locais fossem atendidas apenas por geradores a diesel de acordo com a real necessidade, seriam emitidas cerca de 1.200 toneladas de CO2 por ano.
Preferência pela solar
Os painéis foram instalados em construções de uso público e não em unidades familiares. No total, 96% dos habitantes com energia fotovoltaica preferem este tipo de geração do que de derivados do petróleo. “Com o potencial de energia solar da região do Xingu, não faz sentido que centenas de aldeias ainda dependam, o ano todo, de uma complexa logística para abastecimento e manutenção de geradores a diesel. É possível ter em fontes alternativas o suprimento para as necessidades dos índios, com um custo menor no longo prazo”, aponta Paulo Junqueira, coordenador adjunto do Programa Xingu, do ISA.
A maior oferta de energia elétrica possibilitou expandir a utilização de equipamentos pequenos como celulares e lanternas. Este, principalmente, é um item muito usado pelos moradores. A realização de atividades como o ensino noturno foi facilitada. Os cursos de formação para operação dos sistemas e a participação local na instalação também foram mencionados como pontos positivos do projeto.
Já as vantagens do sistema fotovoltaico frente ao diesel citadas foram a inexistência de ruído, maior facilidade de manutenção por não possuir partes móveis como os geradores a diesel – que estão sucateados – e o fato de ser desnecessário o abastecimento com combustível. Neste caso, quando acaba o combustível, a região fica dependente da entrega do mesmo para ter energia elétrica. Por exemplo, 53% dos indígenas com fontes de energia solar sentiram-se mais seguros no atendimento médico de urgência contra 24% sem energia solar. Também 43% das aldeias com energia solar tiveram escolas que disponibilizam ensino noturno contra 25% das demais.
Quem fornece energia
Este projeto é importante porque a oferta de eletricidade no TIX é restrita e, quando disponível, a energia utilizada provém de sistemas a diesel ou a gasolina adquiridos pelos próprios habitantes ou fornecidos pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde.
O acesso à energia elétrica pode levar benefícios às comunidades como garantir a refrigeração de vacinas, soros antiofídicos, de alimentos, o bombeamento e armazenamento de água potável e possibilitar a ampliação de atividades produtivas, culturais e educacionais.
Para garantir que a universalização seja realizada da melhor forma, potencializando todos esses benefícios, é necessário o desenvolvimento de modelos de implementação que incluam as comunidades e que as políticas públicas do setor elétrico se adequem às realidades locais.
Baixe os relatórios na íntegra:
Aprendizados e desafios da inserção de tecnologia solar fotovoltaica no Território Indígena do Xingu