Em 2025, o IEMA reforçou seu compromisso com dados públicos e ciência aplicada chegando ao fim do ano com novidades importantes – e reveladoras – sobre emissões de gases de efeito estufa e de poluentes brasileiras.
Após dez anos, o país voltou a contar com o Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários – Ano-base 2024, trazendo um retrato detalhado do impacto do transporte rodoviário, realizado pelo IEMA, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Ministério dos Transportes (MT), com apoio da Coalizão Clima e Ar Limpo (CCAC). O documento reúne informações fundamentais para qualificar o debate público sobre poluição do ar e emissões de gases de efeito estufa na área no Brasil.
Os dados mostram que, como exemplo, políticas como o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) foram decisivas para reduzir emissões ao longo de quase quatro décadas, especialmente as associadas à combustão.
Mas o inventário também traz um alerta: o crescimento acelerado da frota e do uso de veículos a combustão mantém as emissões em patamares elevados. No caso do material particulado, por exemplo, embora a poluição dos escapamentos tenha caído, o desgaste de pneus e de pavimentos já responde por cerca de metade das emissões desse poluente, mostrando que o desafio vai além do motor.
Como ocorre anualmente, o IEMA também publicou nesta quarta-feira o “5º Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétricas”, que trouxe outro sinal de atenção. Em 2024, após dois anos de retração, as UTEs fósseis do Sistema Interligado Nacional (SIN) voltaram a ser mais acionadas, elevando as emissões em 29% em relação ao ano anterior. Foram 23,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente lançadas na atmosfera, mais do que as emissões totais de Sergipe e Rio Grande do Norte somadas. A geração termelétrica fóssil saltou de 26,9 TWh para 39,5 TWh, evidenciando os desafios de integrar, com segurança e planejamento, a crescente participação das fontes eólica e solar.
Esses lançamentos acontecem no sexto ano consecutivo de participação do IEMA nas Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP), com uma presença cada vez mais intensa. Nesta última edição da COP30, realizada em Belém (PA), o instituto levou dados e análises a mais de 20 atividades nas quais participou entre a Blue Zone, a Green Zone e espaços parceiros.
As contribuições do IEMA na conferência climática concentraram-se principalmente em transição energética e energias renováveis, com debates sobre flexibilidade do sistema elétrico, desafios técnico-econômicos, expansão com salvaguardas socioambientais, riscos das falsas soluções, sempre com foco em uma transição justa.
A agenda também abordou política energética e combustíveis fósseis, discutindo subsídios ineficientes e os desafios de alinhar o Brasil à meta de 1,5°C; transparência climática, com destaque para inventários de emissões e ferramentas de monitoramento; metano e biocombustíveis, explorando caminhos de mitigação e salvaguardas; e Net Zero Brazil.
Durante o evento, Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do IEMA, ressaltou um dado ainda pouco difundido: o Pará liderar as emissões per capita de metano ligadas ao uso de lenha e carvão para cozinhar, evidenciando a pobreza energética.
Seis meses após o início do projeto Net Zero Brazil, o instituto apresentou os avanços na construção de cenários para que o Brasil alcance emissões líquidas zero – quando a quantidade de gases de efeito estufa emitida é igual à quantidade removida da atmosfera. Segundo David Tsai, gerente do projetos no IEMA, o país tem grande potencial de remoções de carbono com restauração florestal e desmatamento zero, desde que integre políticas de uso da terra, produção agropecuária e energia.
Além disso, um dos debates alertou para os riscos socioambientais da extração de minerais estratégicos para a transição energética, sobretudo na Amazônia. Na ocasião, especialistas defenderam critérios socioambientais rigorosos, salvaguardas territoriais e maior regulação de investimentos para evitar a ampliação de desigualdades e impactos irreversíveis.
Somado a essa questão, pesquisadores e moradores da região amazônica advertiram que o planejamento e o financiamento da infraestrutura no bioma moldam o modelo de desenvolvimento e seus impactos socioambientais; e André Luis Ferreira, diretor-executivo do IEMA, defendeu a incorporação precoce de avaliações de risco, mais transparência, participação social e salvaguardas no financiamento para fortalecer a sociobiodiversidade e a resiliência climática.
O instituto participou dessa e de outras articulações institucionais e estratégicas. Por exemplo, as conversas sobre infraestrutura de transportes na Amazônia tiveram encaminhamentos como priorizar povos indígenas e comunidades tradicionais e condicionar o financiamento de obras à proteção do bioma e dos direitos territoriais.
Os debates com a participação do IEMA resultaram em 18 textos, estes estão apontados em suas respectivas participações no site do IEMA.
Para além das mesas técnicas, a organização também participou e apoiou as mobilizações da sociedade civil que marcaram a conferência, como a Barqueata da Cúpula dos Povos e a Marcha Global pelo Clima. Em todos os espaços, uma mensagem esteve presente: não há solução climática sem dados, e não há dados neutros referentes à justiça socioambiental.
Em análise sobre o evento e os textos finais, o IEMA apontou que os resultados da COP30 reforçam a necessidade de o Brasil construir um mapa do caminho próprio para a transição energética, alinhado aos cenários internacionais, com mais conhecimento e políticas públicas capazes de permitir ao país liderar pelo exemplo o processo de superação dos combustíveis fósseis.
Após a conferência, o instituto repercutiu os resultados, desafios e perspectivas da COP30. No webinar “Belém e além: o legado da COP30 para o Brasil e o mundo”, promovido por Um Só Planeta, da Editora Globo, Ricardo Baitelo, gerente de projetos, discutiu caminhos e condicionantes para uma transição energética justa no país. Também esteve presente em um encontro fechado no CanalEnergia.
O ano se encerra lembrando que emissões e soluções caminham juntas: cidades, energia e Amazônia fazem parte de um mesmo sistema e pedem respostas integradas. Que 2026 traga respiro, cuidado e que o conhecimento construído contribua para reduzir desigualdades, respeitar comunidades e proteger o meio ambiente, unidos pelo mesmo solo e ar.
Acompanhe abaixo as demais notícias do IEMA e boas festas!
Matriz elétrica limpa e inclusiva
Em dezembro, cerca de 20 indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhos de diferentes territórios do Baixo Tapajós participaram da fase presencial da primeira Formação de Agentes Comunitários de Energia (ACE), realizada na Resex Tapajós-Arapiuns (PA). O objetivo era capacitá-los para gestão, manutenção e uso sustentável de sistemas de energia solar em comunidades amazônicas. A formação integra o Sandbox Regulatório Projeto Energias da Floresta, conduzido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em parceria com o IEMA, e foi promovida pela Rede Conexão Povos da Floresta, com apoio das organizações do Grupo de Trabalho de Energia, representadas pelo IEMA, Projeto Saúde e Alegria (PSA), WWF-Brasil e Íon Energia.
Junto às organizações da Rede Energia & Comunidades e em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Aneel, o IEMA e o WWF-Brasil realizaram trabalho de campo na Reserva Extrativista (Resex) Marinha de Canavieiras, no litoral sul da Bahia, à convite da Associação Mãe dos Extrativistas da Resex de Canavieiras (Amex), em novembro. O trabalho de campo buscou avaliar o acesso à energia elétrica e infraestrutura nas comunidades de Barra Velha, Campinhos e Peso, identificar soluções alternativas adotadas pelas famílias e acompanhar o andamento dos programas Luz do Povo e Luz para Todos na região.
Adicionalmente, em parceria com a equipe de desenvolvimento do Aplicativo Luz para Todos, do MME e do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), foi realizado o primeiro teste em campo de operacionalização da ferramenta, voltado à identificação e ao cadastramento de unidades consumidoras residenciais elegíveis ao atendimento pelo Programa Luz para Todos.
Como resultado desse trabalho de campo, pesquisadores do IEMA e do WWF-Brasil, em parceria com a Amex, elaboraram um documento técnico com recomendações para o aprimoramento da implementação do Programa Luz para Todos em territórios extrativistas. O relatório apontou que, mesmo em regiões oficialmente classificadas como universalizadas com relação à energia elétrica pública adequada, há pessoas de unidades de conservação e de territórios de povos e de comunidades tradicionais que ainda estão no escuro. O material foi encaminhado aos responsáveis pela governança do programa e à gestão das unidades de conservação com o objetivo de subsidiar ajustes técnicos, regulatórios e institucionais voltados à universalização do acesso à energia elétrica.
Ainda em dezembro, a Aneel finalizou a proposta de Resolução Normativa (REN) que estabelece as diretrizes do Sandbox Regulatório – Projeto Energias da Floresta, submeteu à diretoria do órgão para fins de avaliação, deliberação e abertura de consulta pública. A REN designa escopo, princípios orientadores e definições fundamentais que balizam concepção, estruturação e desenvolvimento dos projetos a serem implementados no âmbito do Projeto Energias da Floresta.
Em novembro, o instituto esteve presente na visita técnica e escuta comunitária no Complexo do Prado, em Tracunhaém (PE) para documentar, avaliar e dar visibilidade aos impactos socioambientais, produtivos e territoriais da implantação da Linha de Transmissão 500 kV Campina Grande III – Pau Ferro sobre os assentamentos locais. Também buscou fortalecer o diálogo com as comunidades e ampliar o entendimento sobre os desafios impostos por grandes empreendimentos de infraestrutura energética.
Eleito membro do Fórum Nacional de Transição Energética (Fonte) em abril, o IEMA participou, ao final de novembro, de sua primeira atividade como integrante do colegiado, contribuindo com propostas para a elaboração do Plano Nacional de Transição Energética (Plante), um plano de ações de longo prazo elaborado para concretizar os objetivos da Política Nacional de Transição Energética (PNTE) do país.
Em dezembro, o IEMA também contribuiu com a consulta pública do Plano Clima. O texto se concentrou na Estratégia Transversal de Transição Justa e Justiça Climática no âmbito da Parte 2 – Desafios Econômicos, Sociais e Ambientais, levando considerações sobre impactos econômicos, sociais e ambientais da ação climática.
Transporte regional de cargas sustentável
A equipe do IEMA esteve presente no encontro on-line de dois dias, em novembro, realizado pela WWF e pela Fundación para la Conservación y el Desarrollo Sostenible (FCDS) com o intuito de fortalecer o diálogo e as alianças regionais em torno do desenvolvimento de uma infraestrutura de transporte sustentável no bioma amazônico. A iniciativa, que reuniu especialistas da sociedade civil de diferentes países amazônicos, promoveu a troca de experiências e reflexões estratégicas sobre a aplicação dos Lineamentos de Infraestructura Verde Vial (LIVV) e das Avaliações Ambientais Estratégicas (AAE), com foco na incidência nos processos de tomada de decisão, planejamento setorial, produção de conhecimento e direcionamento de investimentos alinhados a uma visão de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.
O IEMA participou da Mini Plenária Pós-COP e do Workshop do GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental, realizados em dezembro, em Brasília. O encontro reuniu organizações da sociedade civil e especialistas para refletir sobre o contexto político, econômico e socioambiental do Brasil no pós-COP30 e avançar na construção de estratégias coletivas de incidência sobre políticas, planos e projetos de infraestrutura de transportes.
A saber
Na segunda semana de dezembro, a equipe se reuniu presencialmente em trabalho conjunto de revisão geral do novo Planejamento Estratégico (2026-2030), este em etapa final. As diretrizes bases desse novo planejamento serão apresentadas ao Conselho Diretor.
Ainda referente a questões internas, o Conselho Diretor fez, no dia 17, a segunda reunião ordinária do ano debatendo temas como eleição de integrantes deste, da diretoria executiva, de integrante no Conselho Fiscal, além de aprovação do plano de trabalho e do orçamento para 2026. Logo em seguida, a Assembleia de Associados também se reúne para a validação dos mandatos indicados pelos conselheiros.
Durante a COP 30 com a presença de David Tsai, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o Observatório do Clima (OC), responsável pela ferramenta, firmou acordo de cooperação técnica com o Rio Grande do Sul para que este amplie a qualidade dos dados sobre emissões e remoções.
Também lançada na COP30, a edição 2026 do Climate Change Performance Index (CCPI) avaliou o desempenho climático de 63 países e da União Europeia, responsáveis por mais de 90% das emissões globais. Com relação ao Brasil, avaliado por especialistas do IEMA e do OC, o país mantém posição intermediária no ranking, influenciada pelos planos de expansão do óleo e gás e pela ausência de um cronograma para a transição para além dos combustíveis fósseis.
Vale ressaltar que o IEMA estará em recesso de fim de ano de 22 de dezembro a 2 de janeiro, com retorno às atividades em 5 de janeiro de 2026.
Na mídia
Eixos. Emissões veiculares estão mudando de perfil no Brasil
Exame. Emissões do transporte rodoviário no Brasil sobem 8% apesar de tecnologias mais limpas
eCycle. Lançamento do inventário de emissões do transporte rodoviário brasileiro
((o))eco. Energia limpa, território vivo: a Amazônia como modelo de transição justa
Agência EcoNordeste. Energias renováveis enfrentam ameaças às vésperas da COP30
Agência Brasil. Organizações criticam extensão de subsídios a usinas de carvão mineral
UOL Ecoa. Ambientalistas divergem sobre resultados da COP30
Intercept Brasil. Agro obteve R$ 25 bilhões do Fundo Clima para empresas com infrações ambientais
Terra. Brasil pode liderar biocombustíveis e aposta na macaúba como diferencial
Rede Notícias da Amazônia. IEMA lança estudo sobre exclusão energética na Amazônia e propõe inclusão produtiva
Exame. COP30: América Latina lidera em energia limpa, mas 22 milhões seguem sem acesso
Valor Econômico. Brasil pode ser protagonista na redução de metano no setor energético
Um Só Planeta. Expansão sustentável dos biocombustíveis no Brasil enfrenta limites ambientais
Agência Pública. Transição energética em Roraima é anunciada com exageros e omissões
Eixos. Pobreza energética expõe ponto cego das COPs
Canal Solar. Aneel e IEMA firmam parceria por energia limpa na Amazônia
Agência Pública. Petrobras inicia corrida por petróleo na foz do Amazonas
Repórter Brasil. Aposta da COP30 em biocombustíveis enfrenta desafios de sustentabilidade
O Assunto. O mapa do caminho para salvar o mundo
ETIC Talks. Camila Bomfim e Vinícius Silva – Desafio da pobreza energética
Eixos. Gás e carvão impulsionam emissões enquanto ganham espaço na matriz
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